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RUMORES
Como deixar a data passar em branco

E celebrá-la secretamente, se o súbito desaparecer

Não pode passar silencioso?
O horror é o mais alto nível da restrita intimidade

Onde parentes e amigos bem humorados

Plantam rumores infundados de que

Recusar qualquer solenidade é recorrer

À opereta desnecessária.


Servidos em bandejas de prata

A vontade a ignorar-se evidentemente

Na meia-hora a perder-se os sentidos

Perante o acidente desprevenido, sem que

Haja nenhum socorro aos que nunca poderiam ser curados.

Não compreender a gravidade

Embora os dias não chegassem,

E às cinco da tarde levou três horas para reagir
Após a aguda voz desafinada

Não carregar qualquer ofensividade,
Apenas o desenrolar previsto de se

Escusar a morte fragilmente demasiada.


Sem dúvida a real situação significava
todas as lacunas.
Os melhores votos de saúde
Longos anos de trabalhos forçados
Não afastaram o pulso desacelerado

Nem as extremidades azuis, ou

Os vômitos incontroláveis.


O estado geral permanentemente grave

Próximo do triste fim.


Rosas eloquentes são menos importantes que

Livros em branco,

Menos ainda que a história de ninguém

Mencionada em lugar algum,

Como a guerra sem condecorações

Requerimentos sem explicações

Distinções canceladas

O melhor descuido: a não

Publicada biografia em detalhes.


Nunca levou o nome de algum deles.

Os méritos estão sem destaque

Ao passo que todos os outros depõem
misteriosos,

Como se oficialmente a ausência não fosse
negada.


Apesar de tudo, os

Cuidados possíveis de se

Submeter às recusas reiteradas

Escondidas entre palavras sofridas

Entre conteiners de cinzas sinceras e rebuscadas

Nos fundos secretos de pessoas indesejáveis.


As velhas não foram fuziladas,

Simplesmente não existiram.

Uma única palavra não revelava a

Saudação calorosa.


A vela não comemora

Os rumores jamais desmentidos.



CERCO

Deserto

Água

Lama

Pedregulhos a fustigar os pés.

Ondas

Vento

Pó a invadir narinas.

Céu

Calor

Frio

Nuvens a se ausentar.

Secura à garganta.

Papel

Galhos

Resto de comida.

Folhas secas no moinho.

Sal

Dor

Tremor

Brilho do suor evapora-se inexprimível.

Caneta

Urticária

Pêlos na orelha

Engrenagens a arranhar-se à morte.

Último

Passos

Depois

Nem o suspiro a contagiar.

Sombra

Ruído

Correntes.

Se pudesse, sitiaria o dia,

E amanhã seria ontem.



IMPOSSÍVEL
Queixo-me com as mãos ao queixo.
Murmuro como gado a ruminar o pasto.
Grito como a sirene da viatura.
Choro como tempestade em fim-de-tarde.
Obstinado como jumento empacado.
Preguiçoso como gato na almofada
Fastiado como velho na calçada.
Impassível como doente em coma.
Angustiado como o olhar no cano do revólver.

Solitário como a presa entre lobos.


Sem Cristo,
O homem é impossível

E impossibilitado.




HOUVE
Há carne,
E sentidos,
Há ferida,
E mortes
Há dor,
E repetições,
Há teimosia,
E ilusões,
Há vão,
E abismos,
Há imoralidade,
E anuências,
Há loucura,
E omissões,
Há sinistro,
E pretextos,
Há retórica,
E impassividades,
Há treva,
E armadilhas,
Há pecados,
E inferno,
Há cegos,
E coiós,
Há obstinados,
E insanos,
Há desertores,
E desgraçados,
Há caídos,
E condenados,
Há criminosos,
E culpados,
Haverá a eternidade,
E mais nenhuma chance,
Pois o passado,
Se houve.




ASPAS

Há uma história conhecida,

A conversa começada no olhar primeiro,

O pano de fundo que não é avistado,

O nome que não é lido.


Há um que conhecia todos,

Não precisava do testemunho alheio,

Traduzia cada pensamento,

Não se prendia aos relatos e exemplos variados

Ou a segredos havidos,

Nem circunstâncias encontradas nos

Corações, pois

As almas eram transparentes,

E diante do impossível retorno

A implicação irrelevante carregava sentido.


Pontos em desacordo arrastam à invalidez,

Mesmo que para isso o pior não aconteça.


Oferece-se para conhecer o verdadeiro estado,

Onde naturalmente não se discerne se o segundo é

Uma série de eventos rotineiros,

Ou passou inutilizado.

Se os motivos fogem acobertados pelo esmero,

No tempo meticulosamente tolhido.

Ao legista dá-se abandonar o cadáver dissecado,

Em que o descanso é proibido,

O débito mutuamente acrescido ao conveniente.


O mais importante viola o menos irrelevante,

Justifica-se a si mesmo,

Quando se pode ter algo melhor do que

Inimigos mortos, e o perigo de levantarem

Da morte.


Não lhe diz respeito o esforço,

Se abertamente implorou as cartas lançadas fora.

Ter respeito é a condição da alma de

Sustentar o homem injustificado,

A surpresa de seqüestrar a última palavra

Enquanto não cede passagem.


De onde vem, não vai,

Favoreceu uma em detrimento da outra,

Nenhuma vez foi mencionado.

Quis preencher o vazio carregado de

Múltiplas afeições.


Porque não se estendeu o medo

Sem requerer a verdade,

Apenas o descontrole não combinado

Rejeitou a sugestão introduzida,

De que a exceção não deu lugar;

E perder os detalhes promoveu o impossível,

O simples a imitar o plural

Sem tempo a uma declaração precisa,

O olhar indisponível,

Da tortura cumprida.


Foi removido, sem aspas

Nem reflexão.

O detalhe dissociado do grande tratado

Aponta à duração extinta,

De que o foco perdeu-se em ocupações.


Construir o começo,

Lutar pelo fim.