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SOBERANIA

Pode Deus ter inimigos?


Criaturas não-eternas não podem vencer o Eterno. 
Criaturas não-infalíveis não podem vencer o Infalível. 
Criaturas não-soberanas não podem vencer o Soberano. 
Criaturas não-santas não podem vencer o Santo.
Criaturas não-perfeitas não podem vencer o Perfeito.
Criaturas finitas não podem vencer o Infinito.


Em todos os aspectos, satanás e os réprobos estão derrotados, 
antes mesmo da fundação do mundo; 
na verdade, foram criados para a perdição eterna, 
a derrocada inevitável, sem qualquer chance de triunfo.


Pois tudo, mesmo o mal, está diante dos seus olhos,
eternamente.


Ontem, hoje, sempre.

PRIMÁRIO

Contínua procura da ordem,
atrás de cada resposta adequada,
por longos caminhos sem distâncias,
onde a humanidade atingiu a vida
com o golpe de quem no lugar da morte
transmitiu dúvidas.


Onde começa o homem e termina o espírito?
Ou o espírito é a gravidez com dores a
parir o homem? E o dá a conhecer?


Ninguém se esforça em elogios,
o silêncio é vagar, sem lugar onde
amigos íntimos lançam ataques suicidas,
em previsões mais graves do que curtas,
no breve intervalo do coro alternado, 
aberto em ondas mecânicas longitudinais,
que não se pode escapar sem antes
queimar as partes condenatórias.


A mão misteriosa é a que, antes de tudo,
inflama as palavras para o que não era
não seja mais, 
e o diagnóstico precoce não cure as dores.


Permanece. Impossível.


Para o bem real enquanto diminui o
imaginário de existir, como uma pequena
parte do que não se foi inteiramente 
capaz de viver.


Em todos os lados, em todas as direções,
as coisas cheias esvaziam-se,
as maiores, sumiram,
de onde vem, não vem outra,
a parte infinita já não é nem
a parte do que se pode ser.


O pardal não voa mais,
receoso de encontrar o lugar 
em que se cai.

RASTRO

E também houve
E também negaram
E também trouxeram palavras fingidas
E também a sentença não tardia
E também espalham suas nódoas
E também o vento a arrastar nuvens no tempo.

Contadas razões
Obra injustificada
Ninguém a escapar
Anunciam-se coisas antigas
Enquanto se tem por testemunha
o estranho tardiamente amigável.

O lugar desconhecido
Dias como pó a varrer o sul
Entre os que partem depois de vir
No que falta não se pode calcular.

Porque as coisas tornam a correr
Antes de morrerem desembestadas
Porque os olhos fartam-se de ver
O lugar cheio de nada
Porque os circuitos dão meia-volta
A guardar o que se lançou fora
O fôlego espalhado nas pedras ajuntadas
nas valas de resíduos tóxicos.

Houve antes a aflição
A que em outros se instalou
Loucura a cavalgar em trevas
A buscar uma porção do mal.

A noite não descansa enquanto
o sol estiver a pino,
Morre o sábio, morre o tolo,
E o homem esquecido
como a paz perdida na guerra.

E também durará eterna,
Se nada se acrescentar,
ou se tirar.