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BALDADO

Barcos vêem e vão do cais
Ao som das ondas quebrando-se na amurada
A abrigar-se da divisão externa dos elementos
Destituídos no mundo dos conhecimentos
Que se recusam a qualquer mistura
Mas se ainda coubessem em seu interior
todas as perguntas sem respostas
A turva visão repetida dos problemas
Não seria mais que palavras sem início e sem fim.

Cantar para si próprio os cantos esquecidos
Faz de noções abstratas o lugar tomado pela aventura
Por notas dissonantes, o espírito recebe um choque
De um modo ou de outro, a surpresa,
Como se a verdade fosse um risco imprevisível.

Os olhos abertos a lembrar a crise
Na direção do futuro sem matriz
Da paixão sem amor
Da morte como casa abandonada
A difundir feridas nas antenas de rádio.

Impossível ao nada disputar o lugar
Onde o salário da morte trouxesse vida
Sem nunca atravessar a porta estreita
E imaginar-se salvo nas coisas iludidas
Curado na doença terminal
A perseguir uma frase sem sentido.

Por que o sentimento incomoda-se a abandonar?
Se da insatisfação se chega ao estímulo?
A derrota é o desafio de tardes repetidas
no primeiro encontro
Como encantos renunciados na vida
A consagrar-se no remorso sem perdão.

O porto-seguro é o único lugar
onde a âncora não tocou.