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EPÍLOGO

O suor a instilar pelo corpo, a última água a jorrar da fonte seca;
Em breve haverá apenas a terra árida,
E o sopro do vento gelado a corroer o ânimo combalido em que me arrasta.
Os olhos que me vêem são os mesmos com que vejo,
As peles exalam o cheiro que me pertence,
Os suspiros, o ar derradeiro a inflar os pulmões,
Nem o zunido a ecoar traz o sentido às palavras.

Cabelos brancos a esvoaçar, folhas esturricadas a farfalhar,
Rugas crispadas, fendas no rochedo,
Não há mal que perdure,
Enquanto houver a esperança de que o bem surja e nos alcance.

Ainda a correria desenfreada,
O tempo a escoar, a barragem quebrada,
Num alívio que se esvai.
Há agonia, a carne lavrada,
Nenhum grão a semear.

Ao querer rejeitá-la,
Fui derrotado pelo laço, o nó paralisante,
Faz o sangue jazer inerte em meio às artérias obstruídas,
Cômodo... partilhar o colapso dos sentidos,
O redemoinho em que o delírio forja a imagem de que não sou
Sequer fui, pode ser que seja...

No fundo, enquanto estraçalhado,
Não sinto a dor que me perpassa,
Nem o pavor a consumir,
Há somente o hálito morno a expulsar-me de mim,
Como um exército em retirada,
Sem ter onde abrigar-se.

Quisera poder chorar,
Rasgar a carne com as unhas,
Cuspir no rosto, amaldiçoar o dia em que nasci,
É tudo o que poderia fazer,
Apesar de nada disso remediar o pecado, 

e absolver.

Sou um condenado à morte infinita,
A eterna agonia de jamais vê-lo,
E após a iminente sentença, a culpa confirmada,
Quis instar-lhe o perdão, era tarde... impossível...
Os grãos debulhados jamais retornam ao sabugo.

Não havia como resgatar-me.
Em toga, era Juiz.