Pages

TEMPO
O tempo não se fatiga,
jamais dorme ou descansa,
nem precisa de auxílio,
não usa bengala ou
se deixa carregar na maca,
ou se lança inerte à cama.

É como o curso d'água
no leito do rio,
a irromper constante,
mesmo caudaloso
a nos apressar,
mesmo minguado
a nos reter.

Onde os passos apressados
não combinam,
onde o estancar teimoso
não pode se partir.

O tempo é uma ponte
que nos leva da fonte
à foz,
as vezes em arroubos,
noutras, complacente,
a escavar barrancos,
erguer trincheiras,
a cortar o sopé do lugar escarpado,
derribar os limites reservados,
separar o barro,
misturar os detritos amontoados.

O tempo carrega montes e vales,
vida e morte,
o perdido e o achado,
o pronto e o inacabado.

Há espaço para o que se foi,
para o que está presente,
e ao que ainda não veio.

É o fluído estanque
na botija,
de onde a torneira jorra,
incapaz de saciar a aridez
do sedento.

Não se pode tê-lo
nem querer mais.
Fartar-se: o sinal de que
o tempo já chegou.

Avidez, pode ser o sinal de
que ele está a fugir.

E não resta mais,
tempo.