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IMPOSSÍVEL II

Como apagar da memória a voz do passado?
E dissipar as lembranças da mente?
Insistindo em viver como se o fundo do coração
fosse um lugar raso?
A reviver a vida não esquecida,
através de imagens amareladas pelo tempo?


Revogar o que não pode ser suprimido
[é mais fácil fugir do que se arrepender],
Viver um permanente estado de inconsciência,
a abafar a própria voz e os gritos exagerados,
de que o homem finito somente é possível
no infinito,
de que certas coisas não fogem
nem deixam fugir,
de que o acaso não tem forças para ocupar
o lugar da verdade,
nem os atalhos podem levar ao único caminho,
e a coragem não pode ser lançada às ruas,
sem que desça aos bueiros,
assim como os tapetes persas não podem revestir
a baia dos porcos,
sem serem destruídos.


Toda tentativa de se manter vivo é inútil
quando se está morto,
o que se quebrou não se pode reconstruir,
a menos que seja novo,
e o impossível venha a ser.


Por ele, e nele,
viva.