Pages

AVISO


Aviso: não siga!


Estanque.

Volte.

Mas não olhe para trás.

Pise o mesmo caminho,

do qual dantes quis fugir,

aonde corriam as pernas,

e o tremor levantava poeira.


Aviso: não siga!


Nem em vinte dias,

nem ontem ou amanhã,

ou nos próximos cem anos.


Não volte àquele lugar,

porque os amigos perderam-se

no instar da bocada a

devorar o cachorro-quente,

e a Coca-Cola não conteve o esgar.


Aviso: não siga!


É Deus livrando-o.

Mesmo que ele não seja assassino,

mesmo que o celular não toque novamente,

nem lhe devolvam o sono desviado,

e a violência serene.


Mesmo que não entenda o seu riso,

nem o nervosismo a contrair-lhe a face,

e sejam restituídos os minutos preciosos em tempo.


Aviso: não siga!


Não é uma advertência,

mas uma ordem.

Não é provável,

mas certeiro.

Não é impossível,

mas para que não aconteça o iminente.

Não é o delírio.

É profecia.


Quem tem ouvidos, ouça.


Aviso: não siga!


Porque Deus não escreve

certo por linhas tortas.


Ele escreve, certo!


Não é um aviso.

Aconteceu.


Para que a surpresa

Não lhe pegue imprevisto,

e o aviso não seja

o repentino epitáfio

entre as lágrimas chorosas

dos que o amam.


Aviso: siga-O.




FATAL

Gravemente pecou;
Chorou as lágrimas solitárias na noite inimiga,
A festa era porta fechada onde habitava a aflição,
E os suspiros desolados do errante repousavam nos caminhos tortuosos e devastados,
Onde o socorro não alcança, onde o fim não é lembrado.
As mãos folheavam o álbum, os retratos de tempos antigos,
O papel exaurido e as cores desbotadas pareciam zombar da ruína em que se tornou.
Gravemente pecou;
O pão, a nudez, o ouro no pescoço, a beldade, eram o troco da alma declinada,
Os ossos esmagados, a carne enfermada não podia mais comprar,
Nem mesmo adubar a grama, nem afastar a cerca ao redor.
A armadilha presa aos pés, avalanche sobre a cabeça,
Velhos mortos desatavam águas dos olhos, jovens convocavam a derrota na última batalha,
Vestir-se de trapos enquanto as luzes expiravam sorrateiras,
E a treva revolvia as entranhas como o fogo consome a lenha úmida.
Gravemente pecou;
A semente rejeitou a terra,
Mães arrastaram filhos pelas ruas,
A boca cuspiu fora os dentes,
No assobio, cabeças meneadas chocaram-se com muros,
E não se podia escapar da última palavra: a loucura não sara.
Multiplicou-se a ira de Deus,
Deu solenes gritos ao ver o lugar destruir-se,
Gemeu diante do esforço vão de quebrar os grilhões,
Devorou o dia pensando na noite, entrou por onde jamais sairia,
Guiou-se como alvo às flechas, fez um prato fundo de areia e lodo,
Escondeu os ouvidos da sinfonia como se esmigalhasse o único troféu.
Gravemente pecou;
A vida pulverizada como metal limado,
Esperar razão quando sobrevêm amarguras,
Põe a língua no pó, persiga as nuvens no céu,
Não se deixe fugir da morte, e ponha-a a salvo depressa,
Pois o castigo espreita, prestes a abater a caça implacavelmente.
Polir o lixo, a culpa não pode ser aplacada com uma desculpa.
Gravemente pecou;
Desviou-se, fugiu, andou lentamente erradio, perseguiu ciladas,
A pele presa aos ossos como cão vadio, sem dono,
Foi-lhe posto o último fôlego, o negrume a vaguear como cego tocando o vazio,
Debaixo da sombra viu covas enfileiradas, nunca mais se morará ali,
Serviu-se o alimento, e água suficiente para acabar com a sede,
Porém, contaminado pelos seus pecados, cumpridos os seus dias,
Consumiu-se no fim como a descobrir uma recompensa... que não chegou.
Gravemente pecou.