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PRAGMA
Não há muito o que dizer quanto a isso,
nem muito com o que se preocupar,

em certo sentido a necessidade repousa
sobre
o alicerce incoerente, em que o
eclético pode
estar em um ou outro
lado da ponta,
pode estar reunido ou
separado,
e ainda que não pareça funcionar,

e reflita a mentira mais obscuramente recuperada,

é como o alicerce erguido inadequadamente

no pântano.


Diante do arcabouço das escrituras
nenhuma
mentira pode ser desenterrada,
nem a verdade
pode-se enterrar,
a menos que o eclético seja
posto de
ponta-cabeça, a juntar os retalhos
como
numa colcha prestes a se rasgar.

Deus tem dado a resposta.





EVOLUÇÃO
Faltam tábuas suficientes,
faltam pregos necessários,

há tábuas sem pregos,
pregos sem tábuas,

martelos sem cabeças,

cabeças sem cabos.


Nunca suficientes.


Há pregos tortos,

e tábuas tortas,

e martelos leves demais.


Tudo imprestável.


Outros são tão pesados que

se é impossível levantar.

As serras não têm dentes,

puas não realizam furos,

e as brocas são planas,

enquanto as chaves não
torcem as fendas,
nem as lixas alisam as crostas.


Mas todos esperam
por
mesas e cadeiras,
e elas o marceneiro,
que
ainda não foi concebido.




MODELO
O oleiro e o barro,
o barro espera o oleiro,

a água a lavar o barro,
enquanto o barro a esperar o oleiro,
enquanto o vaso espera o barro,
e o vendedor a esperar o vaso,

enquanto a flor agoniza nas
mãos do oleiro.

Que não amassou o barro,

não fez o vaso,

apenas arrancou a flor,

porque todos disseram
que
era advogado,
enquanto esperavam o oleiro.




CABER
Frio,
Pés em modorra,
O silêncio,
A contemplar as pás girar.
Latido,
Revolve as tripas,
O sentido,
A latejar as pontas dos dedos.
Risco,
Lança-se ao desperdício,
O sonido,
A empilhar calafrios.
Rude,
Fustiga a pedra solta,
O sólido,
A fragmentar-se no moedor.
Freio,
Pedágio em terra estéril,
O sino,
A roer o osso.
Livre,
Rende-se à dor infinita,
O sono,
A fatigar em penas.
Inferno,
Não é apenas o torpor dos delírios.