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Amei, e não amei
tenho no peito a tristeza e a dor contínua
de que poderia eu mesmo ser maldito e
por amor receberia as suas culpas
ainda que tenha motivos para não amá-los
mesmo que a raiva os transforme em inimigos
e me torne hostil
enquanto os ouvidos moucos desprezarem as
promessas benditas, os olhos forem buracos ocos, e
a língua a difamar a justiça daquele que chama,
não passarão de defuntos em que as velas acesas
as súplicas repetidas, velarão suas mentes mortas, e
de nada adiantará o choro convulsivo das carpideiras
nem o riso ébrio dos inconvenientes
se Deus não se compadecer e restituir-lhes
a vida que não tinham.

Se caíram, quedei-me sem possibilidade de escolha
nos seus pecados participei ativamente
cedi quando não mais resistiram à tentação sofrida
pequei quando não havia a chance de não-pecar
ajudei-os a preservar aquilo que sabiam tão bem
na queda direta que os levaria ao chão
na falsa neutralidade da ordem distorcida.

Estão postos entre o bem e o mal
não conheciam o bem possível, mas
sucumbiram à possibilidade do mal
desconhecido.

Pela não-liberdade escolhida, do ponto de vista
da influência necessária e inevitável
não depende de quem quer ou de quem corre
nem do tempo contado de maneira alguma
mas daquele que tem a promessa, a aliança e a glória.

Para que desse a conhecer as suas riquezas
nos que são seus
para que desse a conhecer o seu poder
para que suportasse com muita paciência
os que não são seus
a destinar uns e outros para os lugares
que dantes preparou.

Mas ele diz:
Manifestei-me aos que não perguntavam por mim
Fui achado pelos que não me buscavam
Para que entre os remanescentes sejam trazidas as
alegres novas de coisas boas.

O inimigo amei como ao amigo
selado pela afeição perene
daquele que estendeu as mãos para
fechar as portas do abismo e trazer-me
dos mortos a Cristo, mesmo nos confins do
mundo, nunca serei confundido.